Lethe e Aletheia

Lethe e Aletheia, mídia mista, 15 x 20, 2022. Postal produzido para mostra  "Who are we? Transcendental self-portraits", organizada pela artista e pesquisadora Marcia Rosenberger

Lethe e Aletheia, mídia mista, 15 x 20, 2022. Peça produzida e enviada para a mostra de arte postal “Who are we? Transcendental self-portraits”, organizada pela artista e pesquisadora Marcia Rosenberger.

Pode ser uma falha interpretativa minha ou uma fuga em espelho, a questão é que essa fantasmagórica forma de comunicação que caracteriza as redes sociais me põe num estado de miséria poética. Ocasionalmente frito as retinas no scroll down infinito, e neste segundo a beleza não está nos meus olhos. Desaparece. Fico achando a existência oca e, ao mesmo tempo, sólida, de tal maneira sólida que as brechas do real ficam cimentadas, irredutíveis. Sinto a realidade fixa, certa e irredutível. Não se desdobra, não se entrelaça. Não a penetro, e ela não me atravessa. Eu aqui, o mundo lá, imutável e estranhamente convulso. Aqui e lá, concêntricos de forma umbilical, porém desencontrados, paralelíticos, petrificados. Eu o modo negativo do que vejo, talvez espelho, ou qualquer miragem que não se manifesta naquilo que observo. Eu o sujeito de Magritte de costas para si mesmo. Na palma da mão, necrológico, o espelho líquido sela todos os fins, minha idealização consumida e contumaz, o lugar onde jamais estou, desejo anestesiado e certeza fugaz. Na minha face de carne, a ausência da falsa aparição e a consumação do real, o ardor do entusiasmo que queima alto mas que no espelho já se encontra finado. Tudo está feito. A morte espreita no cursor do mouse e o tempo passa a largos passos enquanto scroll down. Seguimos perseguindo o fantasma fragmentado, crendo aparição o que é esquecimento

12/2022

Deixe um comentário